A chuva miudinha teimava em cair. O vento soprava com intensidade, a rua estava deserta. Que importava a chuva? Que importava o vento? Eles brincavam como se mais nada existisse... apenas os dois! Deliciados exibiam os seus dotes de exímios cantores, de impressionantes bailarinos!
Uma dança inebriante de alegria, brincadeira, desejo...
A chuva intensificou-se e caía agora copiosamente... mas eles não pararam. O seu ar era de imensa satisfação! Sem inibições nem medos, duas avezinhas soltavam, delirantes, o seu contentamento...
E nós?
Porque somos tão parcos na demonstração dos nossos sentimentos se positivos?
Exteriorizamos o nosso furor... não refreamos sentimentos negativos, pelo contrário, quantas vezes nos deparamos com insultos, violência verbal e até física?
Quotidiana e tristemente, assistimos, sem querer, onde quer que seja, a deploráveis demonstrações de agressividade...
E demonstrações de amizade, de carinho, de afecto, na forma de um abraço caloroso, de um beijinho amigo... do toque essencial, ou um simples elogio? Apenas frias maneiras de cumprimento ou despedida meramente formais... despojadas do calor inerente à conjugação do verbo sentir!
Porque não dizemos ou não podemos dizer às pessoas, enquanto é tempo, que as amamos, que gostamos delas, que as admiramos, quando compelidos pelo nosso coração?
Que sociedade é esta (sendo que a sociedade somos todos nós), que condena, que sanciona negativamente, como sabemos, a exteriorização espontânea de afectos?