Ao final da tarde, caminhei sem tempo e sem destino. A brisa fresca acalmava-me a pele.
Devagarinho, o sol escondia-se no horizonte e a lua aparecia iluminando a noite e fazendo-me companhia!
Nas árvores, mil chilreios de aves em demanda por um lugar para pernoitar. No campo, os insectos num coro afinado, cantavam melodias que ecoariam até ao amanhecer.
Naquela paisagem repleta de tranquilidade, parecia que nada faltava. Não. Havia um lugar vazio... o teu.
Sabes... imaginei que estavas lá. Caminhávamos de mão dada, lado a lado, no mesmo sentido, pela noite dentro até ao horizonte, inalando as partículas inebriantes do teu perfume que o vento espalhava à nossa volta. E assim, bem juntinhos, mais de perto e em silêncio, pudemos observar a beleza deslumbrante que só para dois, o pôr-do-sol revela.
Para além da lua, que fazia resplandecer o teu rosto, também as estrelas pareciam sorrir! Tantas! Não hesitei e escolhi uma só para ti.
Por fim, dançámos ao som da nossa música, aquela... lembras?
E rimos, rimos...
De quê?
De felicidade, "apenas"...
Não sei. Pese embora, digamos sempre que nos desiludiram, por isto ou por aquilo, creio que somos nós que nos iludimos.
Criamos imagens, personalidades, à nossa semelhança e esperamos que ajam como nós, que reajam como nós, que pensem como nós... e não nos damos conta! Quando um dia, a resposta ou o comportamento, não corresponde às nossas expectativas, apercebemo-nos, então, que não fomos bons retratistas. Muitos traços afinal, eram nossos e não do modelo que tínhamos por base...
Interiorizamos as experiências vivenciadas como absolutas verdades e é sempre a partir delas que extrapolamos para a reacção que esperamos do outro. Quando isso não acontece, entramos em dissonância e questionamo-nos: - Porquê assim e não de outro modo?
Mas será que alguma vez, por hipótese, admitimos que fomos nós os autores de tamanho desaire artístico? Fomos nós que falhámos como representantes duma realidade que, de facto, não existe ou vive apenas em nós, resultado dum caldo de cultura tomado desde o nascimento.
Se partirmos do princípio que não somos modelos, mas apenas, pequeninas peças (mas fundamentais), dum puzzle chamado sociedade, ao qual nos temos de adaptar, sobretudo, compreendendo... tudo será mais fácil, tenho a certeza!