A chuva miudinha teimava em cair. O vento soprava com intensidade, a rua estava deserta. Que importava a chuva? Que importava o vento? Eles brincavam como se mais nada existisse... apenas os dois! Deliciados exibiam os seus dotes de exímios cantores, de impressionantes bailarinos!
Uma dança inebriante de alegria, brincadeira, desejo...
A chuva intensificou-se e caía agora copiosamente... mas eles não pararam. O seu ar era de imensa satisfação! Sem inibições nem medos, duas avezinhas soltavam, delirantes, o seu contentamento...
E nós?
Porque somos tão parcos na demonstração dos nossos sentimentos se positivos?
Exteriorizamos o nosso furor... não refreamos sentimentos negativos, pelo contrário, quantas vezes nos deparamos com insultos, violência verbal e até física?
Quotidiana e tristemente, assistimos, sem querer, onde quer que seja, a deploráveis demonstrações de agressividade...
E demonstrações de amizade, de carinho, de afecto, na forma de um abraço caloroso, de um beijinho amigo... do toque essencial, ou um simples elogio? Apenas frias maneiras de cumprimento ou despedida meramente formais... despojadas do calor inerente à conjugação do verbo sentir!
Porque não dizemos ou não podemos dizer às pessoas, enquanto é tempo, que as amamos, que gostamos delas, que as admiramos, quando compelidos pelo nosso coração?
Que sociedade é esta (sendo que a sociedade somos todos nós), que condena, que sanciona negativamente, como sabemos, a exteriorização espontânea de afectos?
Eu queria ser... vida para os que estão morrendo...
Eu queria ser... luz para os que não têm esperança...
Eu queria ser... amor para unir as pessoas e dizer-lhes que sou apenas uma delas...
Eu queria ser... amanhecer para trazer mais um dia de felicidade...
Eu queria ser... noite para acalentar os que não têm paz...
Eu queria ser... nuvem para os que não têm sonhos...
Eu queria ser... música para os que não têm alegria...
Eu queria ser... luar para brilhar na noite da solidão...
Eu queria ser... estrela para os que se perderam...
Eu queria ser... silêncio para calar as vozes que nos magoam...
Eu queria ser... sorriso nos lábios dos amargurados...
Eu queria ser... lágrima para sensibilizar os corações hostis...
Eu queria ser.........................................................
O que eu queria ser mesmo... era uma pequena andorinha... entrar pela tua janela, dar-te um beijinho e dizer-te: - És muito importante p'ra mim!...
A vida é um livro...
Páginas... muitas páginas. Páginas repletas de surpresas. Muitas surpresas, boas e menos boas...
Calma ou apressadamente abrimos... folheamos e deleitamo-nos ou ficamos tristes com certas passagens. São capítulos de alegrias mas, também, de tristezas... tudo faz parte da história, a nossa história que letra a letra, palavra a palavra se vai compondo...
Capítulos de mistérios, de fantasias, sofrimento, decepções, mas também muitas alegrias, muitos sorrisos e, sobretudo, muito amor.
Cada sonho, cada acontecimento encaixa no anterior e projecta-nos o seguinte num encadeado de histórias que, em cada momento, já fazem parte do passado... da nossa história.
Impossível quebrar essa cadeia, essa teia...
Não podemos, por isso, rasgar páginas nem pular capítulos... nem ter pressa em descobrir os mistérios, ter esperança é o segredo... são muitos mistérios que fazem um final feliz...
Viver é estar atento... cada pormenor é importante.
Afinal, são pormenores que, por vezes, nos parecem desprovidos de sentido, que fazem a ligação entre cada capítulo do livro... Do livro da vida, cujo autor é você!