Há muito que não me detinha neste espaço!
Será que só quando estou triste me apetece fazê-lo?
Não é só, mas também é. Afinal este é o meu cantinho, o meu porto de abrigo... o muro onde encosto a cabeça porque me apetece chorar...
Em surdina, derramo palavras que não digo...
Em silêncio, elas perpassam e ultrapassam o meu querer... desfazem sonhos como castelos de areia, construídos pelas mãozinhas frágeis de criança e que o mar, impiedoso, arrasta para bem longe...
Procuro a luz no luar macilento que não ilumina nem aquece, mas confunde... Quis fugir da sombra e, sem querer, entrei na noite pela mão do medo...
E estavam bem cheias as minhas mãos! Uma de alegria, outra de esperança.... que o medo me fez perder.
Vou procurar na noite a alegria, sem esperança....para quê?
Que triste a noite,
Que triste a sombra!
O frio do teu lugar,
O grito do teu silêncio...
Caminho de mão dada com a madrugada
Em direcção ao pôr-do-sol!
Onde está a estrela que me fez voar?
Tocar as nuvens, abraçar a lua, beijar o sol, o dia,
Sentir a melodia e dançar?
Por mim, por ti...
Onde está o brilho de cetim?
Que não sei quando... perdi!
Ao final da tarde, caminhei sem tempo e sem destino. A brisa fresca acalmava-me a pele.
Devagarinho, o sol escondia-se no horizonte e a lua aparecia iluminando a noite e fazendo-me companhia!
Nas árvores, mil chilreios de aves em demanda por um lugar para pernoitar. No campo, os insectos num coro afinado, cantavam melodias que ecoariam até ao amanhecer.
Naquela paisagem repleta de tranquilidade, parecia que nada faltava. Não. Havia um lugar vazio... o teu.
Sabes... imaginei que estavas lá. Caminhávamos de mão dada, lado a lado, no mesmo sentido, pela noite dentro até ao horizonte, inalando as partículas inebriantes do teu perfume que o vento espalhava à nossa volta. E assim, bem juntinhos, mais de perto e em silêncio, pudemos observar a beleza deslumbrante que só para dois, o pôr-do-sol revela.
Para além da lua, que fazia resplandecer o teu rosto, também as estrelas pareciam sorrir! Tantas! Não hesitei e escolhi uma só para ti.
Por fim, dançámos ao som da nossa música, aquela... lembras?
E rimos, rimos...
De quê?
De felicidade, "apenas"...
Não sei. Pese embora, digamos sempre que nos desiludiram, por isto ou por aquilo, creio que somos nós que nos iludimos.
Criamos imagens, personalidades, à nossa semelhança e esperamos que ajam como nós, que reajam como nós, que pensem como nós... e não nos damos conta! Quando um dia, a resposta ou o comportamento, não corresponde às nossas expectativas, apercebemo-nos, então, que não fomos bons retratistas. Muitos traços afinal, eram nossos e não do modelo que tínhamos por base...
Interiorizamos as experiências vivenciadas como absolutas verdades e é sempre a partir delas que extrapolamos para a reacção que esperamos do outro. Quando isso não acontece, entramos em dissonância e questionamo-nos: - Porquê assim e não de outro modo?
Mas será que alguma vez, por hipótese, admitimos que fomos nós os autores de tamanho desaire artístico? Fomos nós que falhámos como representantes duma realidade que, de facto, não existe ou vive apenas em nós, resultado dum caldo de cultura tomado desde o nascimento.
Se partirmos do princípio que não somos modelos, mas apenas, pequeninas peças (mas fundamentais), dum puzzle chamado sociedade, ao qual nos temos de adaptar, sobretudo, compreendendo... tudo será mais fácil, tenho a certeza!
Gosto do mês de Maio. Sim. Tenho mais predilecção por uns meses que por outros. Não é por acaso. Há sempre uma data, uma referência boa ou má, que faz com seja assim.
No entanto, este ano, o quinto mês tem-se manifestado com alguma alteração de "personalidade" e talvez seja isso que tenha também, de alguma forma, contribuído para a nostalgia que me tem assolado ultimamente...
Foi assim, que, numa tarde destas, sem querer, dei comigo folheando o álbum de fotografias que há muito não abria...
A primeira, ao colo da minha mãe, quando assistia embevecida e radiante, àquele circo de rua, itinerante, que mostrava ao público as habilidades de um pequenito símio envergando um minúsculo vestido vermelho com pintas e que acudia pelo nome de Bélinha.
Mais algumas e a minha entrada na escola. Tinha medo. Era um caminho novo e desconhecido! Só a mão da minha mãe, que eu apertava com força, me concedia um laivozito de segurança. O medo era inerente e proporcional à falta de confiança que sempre tive em mim própria. Não sei explicar. É sempre assim inicialmente, mas depois, desaparece.
A seguir, a fotografia de grupo. A minha primeira professora que eu admirava tanto e as minhas amiguinhas. Ainda hoje lembro as datas dos seus aniversários e recordo com saudade as brincadeiras ao ar livre que duravam até que a minha mãe gritava: - Z......, vamos jantar.
E esta, tão engraçada. Pensei. Rostinho sorridente. Uma felicidade imensa com cada avaliação recebida. Uma compensação valiosa pelo empenho e brio colocados em cada trabalho realizado.
E aquela do meu avô, curvado sobre si próprio ou sobre o tempo? Sempre o conheci assim.
Outra. Do meu pai. Rosto cansado e crestado, mas sempre com um desapertado sorriso.
Esta, da minha maninha mais nova. Pequerrucha e moreninha envolta numa mantinha branca, recém-chegada à nossa casa, nos braços da minha mãe.
E ali, a maninha mais velha, que desempenhou tantas vezes, o papel da minha mãe...
Outra, outra e mais outra... Um álbum de vida com tantas, tantas fotografias que não tirei...
Porque me grita o silêncio?
Porque deixou de cintilar a estrela mais brilhante do céu?
Porque perdi as notas musicais?
Porque não ouço o vento?
Porque não sinto a chuva?
Porque não é colorido para mim, o arco-íris?
Porque murcharam as flores?
Porque secaram todos os campos?
Porque deixou a água de ser límpida?
Porque há tantas nuvens no céu?
Porque é longa a noite?
Porque tenho frio?
Porque me ofusca a sombra?
Porque não gosto da tela que pintei?
Porque tropecei e me magoei tanto?
Porque não sei representar neste palco?
Porque não encontro mais o sentido estético da vida?
Porque me desiludo assim?
Porque....?
Porque.......?
Estarei triste?
Que fazer, então?
Tatuei a tua imagem no meu coração... decorei os teus traços, a tua voz, os teus gestos, o teu sorriso, o teu olhar, pintei a tua personalidade da cor do céu...
Viveste em mim, vivi em ti... caminhámos juntinhos, contemplámos paisagens... Sonhámos, sonhámos...
Mas como todos os sonhos... terminou!
Desse sonho verdadeiro, hoje, resta apenas uma recordação agridoce que preenche alguns espaços que ainda doem, dos dias que vão rolando...
Ao adormecer dou-te um beijinho que se perde no silêncio da tua ausência... ao acordar envolvo-te num abraço apertado no vazio...
Já não há paisagens deslumbrantes ou aves riscando o céu, as flores não têm cor, já não há fontes de água fresca, planaltos de ternura, oásis de alegria...
Sabes... creio que existem sim!
Sou eu que sem ti, não os consigo mais ver...
A chuva miudinha teimava em cair. O vento soprava com intensidade, a rua estava deserta. Que importava a chuva? Que importava o vento? Eles brincavam como se mais nada existisse... apenas os dois! Deliciados exibiam os seus dotes de exímios cantores, de impressionantes bailarinos!
Uma dança inebriante de alegria, brincadeira, desejo...
A chuva intensificou-se e caía agora copiosamente... mas eles não pararam. O seu ar era de imensa satisfação! Sem inibições nem medos, duas avezinhas soltavam, delirantes, o seu contentamento...
E nós?
Porque somos tão parcos na demonstração dos nossos sentimentos se positivos?
Exteriorizamos o nosso furor... não refreamos sentimentos negativos, pelo contrário, quantas vezes nos deparamos com insultos, violência verbal e até física?
Quotidiana e tristemente, assistimos, sem querer, onde quer que seja, a deploráveis demonstrações de agressividade...
E demonstrações de amizade, de carinho, de afecto, na forma de um abraço caloroso, de um beijinho amigo... do toque essencial, ou um simples elogio? Apenas frias maneiras de cumprimento ou despedida meramente formais... despojadas do calor inerente à conjugação do verbo sentir!
Porque não dizemos ou não podemos dizer às pessoas, enquanto é tempo, que as amamos, que gostamos delas, que as admiramos, quando compelidos pelo nosso coração?
Que sociedade é esta (sendo que a sociedade somos todos nós), que condena, que sanciona negativamente, como sabemos, a exteriorização espontânea de afectos?
Eu queria ser... vida para os que estão morrendo...
Eu queria ser... luz para os que não têm esperança...
Eu queria ser... amor para unir as pessoas e dizer-lhes que sou apenas uma delas...
Eu queria ser... amanhecer para trazer mais um dia de felicidade...
Eu queria ser... noite para acalentar os que não têm paz...
Eu queria ser... nuvem para os que não têm sonhos...
Eu queria ser... música para os que não têm alegria...
Eu queria ser... luar para brilhar na noite da solidão...
Eu queria ser... estrela para os que se perderam...
Eu queria ser... silêncio para calar as vozes que nos magoam...
Eu queria ser... sorriso nos lábios dos amargurados...
Eu queria ser... lágrima para sensibilizar os corações hostis...
Eu queria ser.........................................................
O que eu queria ser mesmo... era uma pequena andorinha... entrar pela tua janela, dar-te um beijinho e dizer-te: - És muito importante p'ra mim!...
A vida é um livro...
Páginas... muitas páginas. Páginas repletas de surpresas. Muitas surpresas, boas e menos boas...
Calma ou apressadamente abrimos... folheamos e deleitamo-nos ou ficamos tristes com certas passagens. São capítulos de alegrias mas, também, de tristezas... tudo faz parte da história, a nossa história que letra a letra, palavra a palavra se vai compondo...
Capítulos de mistérios, de fantasias, sofrimento, decepções, mas também muitas alegrias, muitos sorrisos e, sobretudo, muito amor.
Cada sonho, cada acontecimento encaixa no anterior e projecta-nos o seguinte num encadeado de histórias que, em cada momento, já fazem parte do passado... da nossa história.
Impossível quebrar essa cadeia, essa teia...
Não podemos, por isso, rasgar páginas nem pular capítulos... nem ter pressa em descobrir os mistérios, ter esperança é o segredo... são muitos mistérios que fazem um final feliz...
Viver é estar atento... cada pormenor é importante.
Afinal, são pormenores que, por vezes, nos parecem desprovidos de sentido, que fazem a ligação entre cada capítulo do livro... Do livro da vida, cujo autor é você!
DEUS pede-nos para amar...
- O que é isso? - perguntamos.
- Será que não é pedir demais? Não é ficção? - pensamos, sem querer.
Talvez não entendamos, talvez não queiramos entender...
E é tão simples, é tão bonito... Basta, para isso, que não tenhamos medo, que não sejamos poupados no empenho, na dádiva, na compreensão, na tolerância...
Um dia Ele pede-nos que sejamos condescendentes, sem ser submissos... é necessário condescender, tolerar, compreender, tentar colocarmo-nos no lugar do outro... sentir o outro. E não é só a tristeza, as lágrimas, não! É a alegria, é o sorriso, que só fazem sentido se forem partilhados.
Outro dia pede-nos para saber ouvir. Não. Saber escutar. Quantas são as pessoas que têm necessidade que escutemos o que têm para dizer? Tão importante essa disponibilidade e atenção!
Outro, pede-nos para sermos generosos. A prática do bem pode contribuir para tornar alguém um pouco mais feliz, mas é, acima de tudo, um tijolo na edificação do nosso bem estar psicológico.
Pede-nos para saber comunicar com as pessoas certas, no lugar certo, na hora precisa, de forma concisa e oportuna. Quantos mal entendidos têm origem no ruído da comunicação?
Outro dia, ainda, DEUS pede-nos, simplesmente, para estar. Estar apenas. Dar a mão, dar conforto e alento, dar um sinal de esperança, fazer companhia a quem está no crepúsculo ou na sombra da Vida... na solidão!
DEUS pede-nos para amar...
E é tão simples!
Não digamos não, não digamos nunca mais, não digamos para sempre nem jamais... digamos simplesmente, ainda!
Ainda nos reencontraremos na estrada da vida,
Ainda encontraremos a pousada, a guarida almejada...
Ainda haverá tempo para amar incondicionalmente, sem temor nem desconfiança,
Ainda haverá primavera, alegria e uma vontade espontânea de sorrir...
Ainda haverá um campo imenso por florir, frutos por degustar, música por escutar,
Ainda haverá muitos passeios de mão dada, para dar.
Ainda haverá saudade, fantasia...
Ainda haverá certamente, motivos para acreditar.
Ainda haverá tempo para ser feliz novamente,
Ainda haverá um mar imenso de amor à nossa espera!
Ainda haverá uma vida nova por nascer,
Ainda... há esperança!
Afinal amanhã, ainda será outro dia...
Lindas são as palavras simples e sinceras.
Lindo é o sorriso franco, o brilho do olhar...
Lindo é o dia de sol ou a noite de luar.
Lindo é escolher estrelas no céu e oferecer a um amigo...
Lindo é encontrar a poesia no vento, nas flores e nas crianças.
Lindo é acordar, lindo é o carinho que se dá,
Lindo é sonhar!
Linda é a liberdade duma ave, cruzando o céu.
Lindo é chorar de alegria e deixar que as lágrimas rolem sem vergonha nem medo.
Linda é a pureza, a verdade, a confiança...
Lindo é ser realista sem ser cruel,
Lindo é acreditar na beleza interior que existe em cada Ser Humano...
Lindo é a dignidade em cada momento,
...............................
Lindo é... tu seres tu!
Paz, quietude, ouvia-se o silêncio!
A lua bochechuda, reflectia uma luz tão brilhante que permitia ver o escuro...
Parei, sentei e contemplei o céu.
Tão lindo!
As estrelas cintilantes, pareciam lantejoulas reluzentes incrustadas num vestido escuro serpenteando numa festa qualquer.
Ah! Uma estrela sorriu para mim!
Um sorriso doce, uma alegria imensa!
Sorri para ela!
- Estás feliz? - perguntou.
- Sim. Encontrei neste silêncio, a paz que procurava. Uma paz que preenche, que consola, que nutre e dá força para continuar a sonhar.
- Também estou feliz, sabes? - retorquiu.
- As nossas dimensões são diferentes, o nosso espaço é diferente, entre nós tudo é diferente. O que faz uma estrela feliz?
- A felicidade das pessoas. Aqui de cima tudo se vê e encontrar uma pessoa a olhar o céu, o luar, as estrelas é tão raro...
As pessoas correm de um lado para o outro à procura de "bens" materiais, não têm tempo para serem felizes.
As pessoas estão cada vez mais despojadas de sentimentos e não sabem e não se apercebem.
Olhar o céu é olhar para dentro de si mesmo, é introspecção, é reflexão, é ver mais além...
- Falar contigo fez-me sentir que não estou sózinha... agora sei que posso continuar a sonhar...
Aquele ponto, lá em cima...
Vês?
Lindo...a brilhar!
Não...
Não é uma estrela,
É o reflexo do teu olhar!
Tudo acontece numa infima parte do tempo, do tempo que conta nas nossas vidas, num segundo, ou até menos - num momento!
Num pequeno instante captamos ou sentimos. Depois, demoramos mais ou menos a processar a informação recebida. Muita dela nem a chegamos a processar, a valorizar, a dar atenção porque não queremos ou porque não sabemos.
Numa infíma parte do tempo, do tempo que conta nas nossas vidas, podemos dizer que fomos felizes... um segundo ou até menos - um momento!
O medo que carregamos do passado e que projectamos no futuro, condiciona e não permite que apreciemos o que nos é oferecido em cada instante: um olhar, um sorriso, um beijo, um abraço, uma palavra...
Porque tendemos a sobrevalorizar as coisas más e a menosprezar aquelas que nos podiam fazer felizes?
Muitas das atitudes que tomamos são ditadas por uma conduta que queremos que os outros apreendam. Esquecemos que o fio condutor das nossas vidas deverá ser, deve ser sempre, a coerência connosco próprios. É a nós próprios que não devemos mentir, que não devemos omitir.
Porque nos esquecemos ou não temos sempre presente que o tempo não pára?
Não valorizar o que acontece em cada momento não é perder... é não ganhar!
Não ganhar a possibilidade de ser feliz!
Tarde soalheira de Outubro. Depois de um longo passeio, descansei sentada naquele paredão, virada para o mar, pernas caídas balouçando devagar.
Perdi a noção do tempo, era quase pôr-do-sol!
A beleza e a tranquilidade daquele lugar eram estonteantes. A brisa agitava ao de leve o meu cabelo e suavizava o meu rosto!
Imaginei que estavas comigo, coladinho a mim, como se fossemos um só. Sempre sonhei partilhar contigo os meus melhores momentos!
Não sabes como é deslumbrante a forma como o mar e a areia se amam... deslizam suavemente como se se acariciassem, serpenteiam, dançam, afastam-se e voltam a encontrar-se num abraço impetuoso!
E repetem, vezes sem conta, este ritual do amor!
Por fim, arrebatador, numa onda crispada de desejo, o mar envolve-a completamente... Sublime!
Naquele instante, único, nem o céu nem o luar, nada, pode perturbar dois verdadeiros amantes!
A seguir regressa a calma, a quietude, apenas a brisa, apenas o cheiro intenso a maresia!
E, de novo, a mesma dança, o mesmo fulgor...
A noite que já caíra, entretanto, permitiu-me observar que os raios de luar que neles mergulhavam, emanavam um brilho que só quem ama pode reflectir!
"- O que mais o surpreende?
- Os Homens!
Perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
Pensam ansiosamente no futuro e acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido!"
(Dalai Lama)
Era alegre, muito alegre! Chegou em bando e foi-lhe recomendado que teria de escolher e demarcar o seu espaço. Assim fez.
Um pedacinho de barro... e mais outro. Ops... caíu. Há que refazer tudo de novo. É sempre assim. É preciso recomeçar. Aliás, é imperioso recomeçar só assim se pode continuar. Mas aquela andorinha era demasiado perfeccionista! Ela não olhava, ela contemplava embevecida, a obra que aos poucos ia construindo.
Sem dar por isso, perdeu tempo demais. Era tempo de acasalar e ela não tinha terminado o seu ninho. As suas companheiras já estavam a nidificar e a sua "obra de arte" continuava por concluir.
Os primeiros "piu, piu, piu", começaram a irromper dos ninhos vizinhos e ainda aquele não estava pronto...nunca iria estar pronto!
Aquela andorinha perdera-se no caminho!
No final do Verão, as outras partiram em bando familiar. Ela ficou. Não tinha construído nada! Encontrava-se sózinha e estava triste, muito triste, não tinha ânimo, o tempo passara e ela não dera por isso!
E não foi o destino. Foi a escolha. Entre o amor e o medo ela escolheu o medo e este paralisou-a. Medo de falhar, medo de ser forte, medo de não conseguir superar os obstáculos e, por isso, numa vertente unidimensional não foi além da parte material.
Mas durante todo o tempo em que ela ficou sózinha, naquele Inverno, dentro do ninho para se proteger do frio rigoroso, pensou muito e desenvolveu uma nova relação - aprendeu a amar-se! Saíu de si própria, abriu as portas ao mundo e descobriu a única realidade que existe: a realidade do momento, livre do medo.
Descobriu, também, que os que estabelecem objectivos têm mais probabilidade de os alcançar, sobretudo se provindos do coração!
O perfeccionismo é inimigo da felicidade!
Naquele período de solidão aquela andorinha descobriu tantas coisas em que antes não reparara!
Descobriu que podemos sempre mudar a maneira como interpretamos o que acontece à nossa volta: há sempre uma oportunidade diferente de compreender o mundo!
O medo apresenta múltiplas faces: perfeccionismo, obsessão, insegurança, timidez....
Esta andorinha aprendeu com o(s) erro(s) e... nunca mais será a mesma!
Reconheceu os malifícios do medo e, decididamente, escolheu o amor!
Num momento tudo acontece...
A primeira impressão,
Sonho ou ilusão?
Num momento tudo acontece...
Nas palavras o tom
Nas mãos o gesto
No olhar a verdade
Num momento tudo acontece...
Emoções, sensações
O entardecer, o lugar e... a chama
Que a brisa suaviza
Ou talvez não,
Mas sim o medo...
Medo de levitar, voar e acreditar
Que num momento tudo acontece!
Bom dia é acordar...
Apreciar a brisa, uma canção, o mar...
É sonhar...
Bom dia pode ser...
Tão simplesmente,
Oferecer um sorriso,
Retribuir um olhar!
...têm as palavras?
Doces, maravilhosas, sensíveis,...
Depois do silêncio?
Aviãozinho de papel lançado para aterrar na pista de um sonho?
Algodão... doce que derrete e logo desaparece?
Balão colorido que se solta da nossa mão?
Palavras em vão?
Não!
No silêncio consigo ouvi-las...
No vazio consigo senti-las...
Mas sem sentido?
O tempo... o vento... as levará!
Porque deixam, pouco a pouco, de se agitar as nossas bandeiras?
Nossa referência, nosso exemplo, porto de abrigo disponível para acolher, confortar, aconselhar, gostar, criticar, repreender, desculpar... sempre com muito amor!
As cores que, inicialmente eram vivas e atraentes, vão-se esfumando, esbatendo e elas ficam tão frágeis!
O tempo vai desfiando as nossas bandeiras... tira-lhes não só a cor mas também o brilho, a leveza, a agilidade, rouba-lhes tudo... o que tiveram e o que foram.
O tempo é ingrato, retira os nossos sinais e diz-nos:
- Agora vai, descobre o teu próprio caminho e iça as tuas próprias bandeiras!
É assim numa sucessão que, por mais repetitiva, jamais a aceitaremos!
- Porquê? Perguntamos!
Porque sofremos tanto quando deixamos de vislumbrar o carácter peculiar daquelas que foram os nossos pontos de referência? Faróis sempre ligados que nos guiaram e indicaram o melhor percurso!
Que fazer quando o vento continua a soprar e as nossas bandeiras já mal se agitam?
Apenas continuar a amá-las!
Continuar a amá-las é respeitá-las! É dizer-lhes: OBRIGADA!
Um jardim magnífico! Flores, muitas flores, muita cor, muito perfume! Não havia arbustos, não havia sombras...
O requinte do perfume das palavras, a cor do olhar, a tonalidade do sorriso, fizeram com que duas flores desse jardim idílico, se encontrassem.
Os seus canteiros eram diversos e distantes, mas elas comunicavam exalando o seu perfume.
O entusiasmo duma pela outra foi crescendo, crescendo, apesar de...
Havia peças que não encaixavam, fiapos que escapavam, sílabas, palavras e frases demasiadamente vazias!
É estranho..., pensava! - Não. Não pode ser. - Dizia para com ela! Estava tão extasiada com o perfume que olhava mas não queria ver, ouvia mas recusava-se a escutar.
Foi então que pensou, parou e constatou o que não queria!
- Oh! Ela parece real mas não é!! Ela não é verdadeira!
A flor que, mesmo exalando um perfume estonteante em seu redor, era artificial!
Essa flor representava!
Magoada, triste e machucada a flor natural, fechou-se nas suas pétalas!
Naquele instante, toda a sua seiva se transformou em lágrimas copiosas, disfarçadas, também elas, de pequeninas gotas de orvalho...
Enquanto soluçava, murmurava baixinho o velho ditado nipónico: - O problema não foi teres-me mentido... o problema é que nunca mais vou confiar em ti!!
A nossa mente é fértil em criar ídolos, imagens, personagens,... Basta uma voz, um olhar ou, até, nada disso... apenas palavras! Sim, apenas palavras para começarmos imediatamente a conjecturar o seu autor!
Desenhamos, pintamos e colorimo-lo com as cores da paleta da nossa imaginação! Insipiente, mas já é sonho! E, não sendo real, só tem dons... chegam a ser mágicos! Há muita magia nos nossos sonhos!
Magia que umas vezes dura mais outras vezes dura menos. Tão pouco, às vezes, que nem tivemos tempo sequer de os concluir, retocar, como era nosso desejo!
Como crianças que se divertem, desfazendo construções de areia, há quem se divirta, impiedosamente, desfazendo os nossos sonhos!
Porque será que há seres (humanos) que não gostam de participar dos sonhos dos outros?
Porque destroem esses sonhos?
Pior, ainda, porque se divertem com essa destruição?
Não há na sua consciência uma voz conselheira que alerte, que impugne esse comportamento desviante?
Porque sonham sozinhos?
Porque consistem os seus sonhos apenas em destruir?
Porque lhes apraz o sofrimento?
Um dia, tarde demais, talvez, vão perceber que ninguém, mas ninguém mesmo, vai querer partilhar um simples sonho com eles!
O quanto é bom sonhar, assim, nunca vão saber!
... CAMINHAR
Viver é ir
Viver é voltar
Viver é ver
Viver é escutar
Viver é receber
Viver é dar
Viver é ser justo
Viver é querer
Viver é errar
Viver é aprender
Viver é crescer
Viver é gostar
Viver é acreditar
Viver é rir
Viver é chorar
Viver é sonhar
Viver é SER... HUMANO
Viver é... AMAR!
Eu não merecia! É o primeiro pensamento que nos ocorre quando alguma coisa sai da linha previamente definida. Certo. Nós não merecíamos mas os outros também não. Ninguém merece sofrer! O sofrimento danifica, destrói, arrasa, até!
Mas se ele não existisse como é que nós valorizávamos o bem-estar e as coisas boas da vida?
Que valor atribuiríamos ao amor se não houvesse desamor?
Valorizaríamos a luz se não fosse o escuro?
E a saúde se não fosse a doença?
A meninice se não fosse a velhice?
A paz se não fosse a guerra?
E a chuva se não fosse a seca?
O silêncio se não fosse a poluição sonora?
As coisas más não são desejadas, nem queridas, surgem quando menos se espera mas, se superadas, elas reforçam a vontade, a esperança e até a confiança! Elas comportam sempre uma lição que é necessário decifrar.
Após a doença a vontade de viver não é maior? Não se adquire, até, uma capacidade de apreciação minuciosa que antes não possuíamos?
Não deixamos de viver porque a morte está sempre presente, pelo contrário, é precisamente, porque morreremos que temos de apreciar cada momento, viver intensamente, conscientes porém, que nunca estamos sozinhos e devemos fazer da vida um acto de partilha.
A vida é composta de momentos bons e momentos maus, todos sabemos. O que, por vezes, não sabemos é que todos temos forma de contornar ou até mesmo superar, as situações menos agradáveis com que nos deparamos...
E é tão simples!
Por vezes, basta... QUERER!
Às vezes, somente... CRER!
Um rio que corre sem parar, umas vezes em turbilhão, outras beijando suavemente, cada pedrinha do seu percurso - assim é a vida!
Às vezes transparente e doce, outras vezes turva e amarga! Aceitar o que ela nos dá, é o que nos resta... sendo que, de alguma forma, podemos, sempre, moldar o seu leito. Aliás, tudo depende dessa moldagem só que, na maioria das vezes, não a sabemos fazer!
Ninguém nos ensina nada, aprendemos, querendo, por nós mesmos e como as oportunidades são escassas ou únicas, temos que saber transformar os erros em lições de vida!
Também tem meandros, muitos meandros para chegar sempre ao mar! Quantas vezes escolhemos os caminhos mais tortuosos, mais labirínticos para alcançar os nossos objectivos, se os houver...
Se revolto, o rio arrasta tudo à sua passagem, nada é poupado! Se desesperados, nós, fazemos o mesmo, nada é desculpado, nada é desculpável e às vezes nem sequer valia a pena!
Um rio de água límpida e calma inspira-nos confiança e, por isso, banhamo-nos nele...
Assim são as pessoas ponderadas e, por isso, gostamos delas!